As histórias, locais e os protagonistas, são verdadeiros. Tudo aconteceu exatamente como está narrado.
Ilustrações by Mauro Machado de Oliveira. Born to Paint! Textos: Luciana Meregalli e Waner Biazus
"E daí? Tu quer o quê? Os índios não usavam Nike!"
"Tá cheio de caco de vidro, e os índios estão descalços!"
Comentário infeliz na gravação do "Corredeiras".
O trabalho era a gravação para o comercial "Corredeiras" da Unimed, com a Vídeo Top. Partiu um ônibus de Caxias do Sul com todo o elenco, pessoal de apoio, os índios figurantes e as tralhas tecnológicas para as tomadas de cenas, na beira do Rio das Antas - RS.
O personagem principal do vídeo, um cara com a "pinta" do Harrison Ford (só a pinta), saía correndo na beira do rio, no meio das pedras, perseguido pelos índios. Enquanto isso, o Waner Biazus e o Paquito ficavam escondidos, entre aquela natureza toda, filmando.
Prepararam minuciosamente as tomadas, as distâncias do personagem em relação à câmera, dos índios ao personagem, debaixo de um sol de torrar miolos. O Waner, então, passou as coordenadas ao ator:
- "Cara! Presta atenção! Fizemos uma marcação no chão. Tu corre por ela."
Enquanto os índios eram maquiados, foram feitos vários ensaios com a fuga do tal cover do Harrison Ford. Ele corria, pulava de uma pedra à outra, e vinha em direção à câmera. Só que o cara saia sempre fora do ângulo da câmera. O Waner, depois de mandar o ator repetir pela oitava vez, começou a ficar irritado:
- "Pô cara! É só seguir a linha. Pula de uma pedra a outra".
- "Pode deixar que agora vou acertar Biazus", falava o rapaz, tentando demonstrar certa confiança.
Aí, ele veio correndo, mais uma vez em direção à câmera, numa cena bonita, "coisa de cinema". Mas de repente sumiu do ângulo. O negócio tava difícil.
- "Mas tá loco! Cara burro! É só seguir a linha", falou o Waner indignado.
O cara tinha sumido até do cenário. Só se ouvia um "me ajude" abafado. O problema foi que o "ator" até estava na direção certa, mas conseguiu errar o pulo e cair num buraco. O Waner e o Paquito tiveram que içá-lo (e ele fazendo onda, cheio de "ais" e "uis", forjando um "tô à beira da morte"). Aí veio a Nika com o "kit de primeiros socorros," composto de um mísero gelol e um mertiolate. Depois de besuntar o "ferido" com um tubo inteiro de Gelol, e cortar o barato dele de querer ficar 2 horas se recuperando, o pessoal voltou às filmagens.
- "Tu não vai errar, né? Tu já sabe do buraco. Passa por cima", avisou o Waner.
- "Tá!", confirmou o ator.
Nessa hora, os índios já estavam posicionados uns 15m do ator, loucos pra encher "o mala" de flechadas, e ele uns 15m da câmera, tudo pronto.
- "No meu vai, hein?! Vamos lá! Atenção! Câmera, aç…."
- "Pára aí! Pára aí!! Quero falar uma coisa", interrompeu o ator, cortando todo o clima.
- "Mas o que foi, agora??", disse o Waner, irritado com o folgado.
- "É o seguinte! Esses índios vão passar no mesmo lugar que eu tô passando?"
- "Claro!"
- "O negócio é o seguinte, eu tô com essas botinas com sola grossa e os índios descalços."
- "E daí? Tu quer o quê? Os índios não usavam Nike!"
- "Não é isso. É que aqui, onde tá marcado, tá cheio de cacos de vidro! Descalços eles vão se cortar todos. Por mim não tem problema, agora eles…"
Os índios, em coro, se manifestaram na hora:
- "Cacos de vidro? Não, não, nem pensar!
O cara conseguiu estragar a cena. Os referidos índios se negaram a continuar as filmagens, a não ser que pudessem calçar algo. O Waner, então, teve que concordar que eles calçassem tênis e mudar todos os ângulos da câmera. E o "cover" fajuto do Harrison Ford, depois levou o troco. Mas essa é outra história.
Clique aqui e leia a outra história "Índio anda de ônibus..."
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