"ESCUTA" ESSA!

As produções da propaganda, narradas por quem "sobreviveu" pra contar essas histórias!

As histórias, locais e os protagonistas, são verdadeiros. Tudo aconteceu exatamente como está narrado.

Ilustrações by Mauro Machado de Oliveira. Born to Paint! Textos: Luciana Meregalli e Waner Biazus

"O estofamento desse carro é o mesmo couro da minha jaqueta e sapatos!"

Disse o dono do Lincoln que pegamos emprestado…

"Olha que ele custa 200 mil dólares!"

A Exacta (Planet House) estava gravando um clipe para o lançamento de malhas de verão.
O enredo: "Enquanto desabava uma "chuva de verão", uma bonita mulher atravessava, em cima da faixa de segurança, uma movimentada avenida. Ela parava, jogava a sombrinha fora e começava a dançar e se molhar na chuva."

Como filmar com chuva de verdade é muito complicado, a chuva foi toda criada pelo pessoal da produtora. A pré-produção e as gravações aconteceram na área coberta dos Pavilhões da Festa da Uva de Caxias do Sul - RS. Era um espaço grande, livre e coberto. Para esse trabalho, tinha um semáforo, faixa de segurança, uns 30 veículos (entre carros e motos) com os faróis ligados, muita chuva e modelos bonitas. Tinha que ficar parecido, o máximo possível, com uma avenida super movimentada em uma noite chuvosa.

Para fazer a chuva, foram colocadas no teto, com o esguicho voltado para baixo, cinco mangueiras enormes do Corpo de Bombeiros de Caxias do Sul. O abre-fecha das mangueiras  e a quantidade de água que jorrava, eram totalmente controlados pelos bombeiros.

- "Atenção!! Luz, câmera, água!", dizia o Waner Biazus no megafone.
- ("Água", era o sinal pros bombeiros ligarem as mangueiras).
- "Ação!", emendava ele.

A cena era fantástica. Trânsito-caótico-de-cidade-grande. Carros e motos parados no semáforo, e "muita chuva"! As 6 modelos atravessavam a faixa, debaixo de chuva. A protagonista parava e jogava fora a sombrinha. Ficava toda molhada, dos pés à cabeça, "curtindo" a chuva de verão. Como apoteose final, chegava um carrão importado (na época não era qualquer um que tinha um Lincoln). Freava, e de dentro dele saía um cara e abraçava a mulher. Ambos ficavam girando embaixo do "temporal" como se nada fosse.

Para conseguir esse tal carrão importado, a Nika (da produtora) contatou um empresário, dono de um Lincoln show de bola. Era um "possante" com estofamento em couro "vermelho/vinho" legítimo. O cara, zeloso ao extremo com o carro, não largava do pé da Nika. 

- Tá! Mas vocês vão molhar meu carro?", pedia ele.
"Sim!", respondia a Nika.
- "Vão secar?"
- "Sim!".
-"Olha que ele custa 200 mil dólares! Tá vendo essa jaqueta?", perguntava ele apontando pra jaqueta de couro que vestia.
-"E esse sapato??", agora apontando pro sapato de couro lustro.
- "Sim, sim!", respondia a Nika já beirando a impaciência.
-"É o mesmo couro usado no estofamento do meu carro. Quando saio com ele, saio vestido assim." 

O Paquito (diretor de fotografia), com medo de causar qualquer dano ao carro do cara, colocou fitas de segurança ao redor dele, pra ninguém chegar perto.

- "Vocês me liberam o carro até às 2 da manhã? Eu preciso ir pra boate", insistiu ele.
- "Vamos fazer o possível", respondeu a Nika. 

Mas ainda tinha muito pra acontecer nesse trabalho!

O cenário, a iluminação, a chuva, os modelos, estava tudo perfeito. Funcionando às mil maravilhas… Na teoria.

- "Luz! Camera! Água! Ação!", berrou o Waner.

Aí veio aquele monte de água, faróis ligados, as modelos caminhando na faixa de segurança, motos cruzando a rua, um caos organizado, bonito de ver. Até aí tudo certo. Quando a modelo principal chegou na faixa, de vestido de malha branco, jogou fora a sombrinha e começou a se molhar.

Antes de continuar, um "detalhezinho à toa":

A temperatura, que tinha se mantido quente durante toda a semana (em torno de 25 graus centígrados), naquela noite, baixou para 5 graus centígrados. Imagina o frio!

De volta à história:

O Waner, ficou de olho na modelo que se molhava.

- "Filma tudo o que puder! Sem cortes", disse ele pro câmera.

A modelo, coitada, debaixo daquele vestidinho de verão molhado, começou a "encarangar". A cena durou uns 5 minutos, até que a modelo "endureceu" no cenário. A Nika correu com cobertor e chá, para acudir a moça que tremia feito vara verde.  

Depois de aquecerem, vestirem, maquiarem e pentearem de novo a moça, recomeçaram a filmar. Novamente ficou molhada como um pinto e aguentou só dois minutos.

Reaquece, veste e arruma tudo de novo. Nova tomada de cena. Aguentou mais um minuto até voltar a "travar". Ela não conseguia falar, só balbuciava e batia os dentes feito uma metralhadora. Tava um frio terrível e ela (com razão) não queria mais saber de gravar. Estava beirando uma hipotermia.

Estavam previstos 30 takes com a modelo se molhando e tinham sido feitos apenas três. Depois de muita negociação, ela concordou em fazer uma última (e única) cena. Era justamente a chegada do "carrão" pilotado pelo seu namorado. Só que a cena foi tão rápida (temendo que ela encarangasse de novo), que nem deu pra ver direito o tal do carrão importado.

Essa última cena foi feita lá pelas 4 da manhã. Às 2 da manhã, o dono do "carrão", cansado de esperar, foi pra boate pilotando o Fiatzinho emprestado da Nika.

O Paquito (e o resto do staff da produtora), teve que dar uma de "babá do carro" até às 8 da manhã. Foi a hora que ele chegou. Saiu "meio torto" do Fiatzinho, analisou o Lincoln, procurando algum arranhãozinho. Conferiu o estofamento, comparou com a jaqueta e o casaco, e como não encontrou "nada de anormal", não fez perguntas e se mandou no "possante".

Depois de tantos contratempos e "banhos de água fria", o clipe comercial virou outro sucesso.

Clique aqui e veja como ficou o clipe

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