"Paguei duas horas de avião pra 6 segundos de cena?"
"Ma tu foi é passear de avión!"
Era a 3ª vez que a equipe levantava voo para fazer as cenas aéreas. E era a 3ª vez que o cinegrafista enjoava…
Para fazer um audiovisual pra uma grande empresa do ramo textil, que ia ser apresentado em São Paulo e na Itália, a Exacta (atual Planet House) contratou um avião Cesna, no Aero Clube de Caxias do Sul. Seria uma hora de voo sobre a empresa. Para poder ter mais "movimentação" e ângulo de câmera, a equipe retirou a porta do avião (na época podia tudo!) porque a janela era pequena demais para colocar a câmera.
O Sérgio, cinegrafista pra lá de corajoso que fez parte de outras histórias da Planet House, se projetava para fora, apoiava o pé em cima da roda do avião e num equilíbrio sobre-humano segurava a câmera de 7kg.
O Waner Biazus, de cinto de segurança afivelado, abraçava o banco do avião com o braço esquerdo e com o direito, segurava o Sérgio pelos fundilhos da calça. Era a (única) segurança que o cameraman tinha para não despencar.
O aviãozinho subia e descia, subia de novo pra pegar teto. Em cima da empresa, reduzia a velocidade, descia meio em "parafuso" e dava rasantes abaixo de 500 pés (o que é proibido, diga-se de passagem). O vento assobiava e sacudia todo o avião, como se fosse desintegrá-lo. Foi uma movimentação intensa, durante mais ou menos uns 40 rasantes.
- "E aí Sérgio? Como estão as cenas?", perguntava ansioso o Waner.
- "Bacanas", respondia ele em meio aos sibilos assustadores do vento.
Depois de uma hora, o Waner perguntou:
- "Temos?"
O Sérgio só esboçou um positivo com a mão. Foi puxado para dentro do avião.
Sentado na poltrona, segurando a câmera, pálido, não falava nada. Quando o avião tocou o solo, queimando a borracha das rodas, o Sérgio olhou pro Waner, fazendo uma cara de louco, e começou a regurgitar. Vomitou o café, o almoço e a janta, de uma vez só.
Por muito, mas muito pouco, ele não deu um banho no Waner. Mas o banco e as costas do piloto não se salvaram.
Depois desse festival "Enoenjoativogastronômico", foram para a TV conferir as cenas. E foi triste! Todas tremidas e fora de foco. Nenhuma prestou.
Foi a vez do Waner enjoar.
Dali a dois dias, marcaram nova decolagem/ filmagem.
O Sérgio chegou todo animado:
- "Biazus! Tenho um antídoto para enjoo", falou mostrando um monte de limões nos bolsos.
E lá foi ele direto chupar o primeiro limão azedo. O avião decolou, já pegou o segundo. Perto da empresa, já chupou o terceiro. O Sérgio ia se transformando no homem limonada. Aí então, se projetou para fora, com o quarto limão já na boca, a câmera no ombro, o pé na roda e o auxílio "heróico" do Waner Biazus. Depois de 40 rasantes, "Ok!", tranquilizou o Sérgio.
Então, entrou no avião e pegou mais um limão, o quinto a esta altura.
- "Como tá, Sérgio?", perguntou o Waner preocupado.
Mais uma vez, ele só fez um positivo com o dedo.
Quando ele desceu do avião, colocou tudo pra fora de novo. E o pior, com um toque de suco de limão!
Do Aero Clube, foram pra TV analisar as cenas. Nada de bom! De novo uma m… O Waner, com ajuda do editor da TV, bem que tentou salvar o trabalho na edição. O empresário não ficou nada convencido.
- "Cade as cenas do avión?", perguntou ele no dia da apresentação.
- "O senhor não viu?? É um show em slow motion!", falou o Waner.
O vídeo, com mais de 20 minutos, ficou (só) com 6 segundos de cena aérea, em "super slow motion".
- "Paguei duas horas de avión pra 6 segundos de cena?? Ma tu foi é passear de avión e eu paguei, né Seu Biazus!", disse o empresário.
Na hora, a vontade do Waner foi de decolar de novo! E quando estivessem bem altos, abriria a mão e soltaria, de vez, os fundilhos do Sérgio... com os limões e tudo!
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